Sisema tegumentar e sensorial
O sistema tegumentar e sensorial é um conjunto de órgãos, tecidos e estruturas interconectadas que formam a pele e seus anexos, como pelos, unhas, glândulas sebáceas e sudoríparas. Essa integração permite que o corpo responda adequadamente a estímulos externos, garantindo proteção, adaptação e sobrevivência.
Tecido epitelial
O sistema tegumentar é formado pelo tecido epitelial de revestimento com células bem próximas e unidas que funcionam como barreira contra agentes infecciosos e evitam a perda excessiva de água e o ressecamento.
Além disso, a pele exerce funções imunológicas, mantém a integridade do corpo, faz a metabolização da vitamina D, absorve radiação ultravioleta e detecta estímulos sensoriais.
A pele é o maior órgão do corpo humano, no adulto ela mede aproximadamente 2 m2, 2 milímetro de espessura e um peso aproximado de 4,5 kg no adulto. Ela é formada por duas camadas principais firmemente unidas entre si: a epiderme e a derme.
Epiderme
A epiderme é a camada mais superficial, caracterizada por ser avascular, sendo que sua nutrição ocorre por difusão, nela são encontrados os queratinócitos (90%), responsáveis pela resistência e impermeabilização de microorganismos e agentes químicos e os melanócitos (10%), responsáveis pela produção de melanina que garante a coloração da pele, olhos, cabelos e pela absorção dos raios ultravioletas.
Camadas da epiderme
A epiderme possui células com formato prismático ou cuboide com as seguintes camadas, em ordem da mais superficial até a mais profunda temos: córnea, lúcida, granulosa, espinhosa e basal.

Córnea: é a camada mais externa da epiderme formada por queratinócitos mortos, suas células não possuem mais núcleos e organelas, e o seu citoplasma está cheio de uma escleroproteína denominada queratina.
Lúcida: encontra-se apenas em tecidos espessos como palma das mãos e planta dos pés, ela ajuda a fortalecer a pele e torná-la mais resistente a lesões e abrasões.
O estrato lúcido apresenta eleidina, uma substância gordurosa que hidrata a pele e suas células são bem delgadas, sem núcleo e transparentes, por isso, chamado lúcido.
A eleidina é um precursor da queratina e desempenha um papel importante no processo de queratinização, que é a transformação das células da epiderme em células cheias de queratina, proporcionando resistência e impermeabilidade à pele. Atua como uma barreira protetora, ajudando a impermeabilizar a pele e a protegê-la contra a perda de água e a entrada de agentes externos.
Granulosa: é formada por queratinócitos achatados, nela ocorre controle da perda de líquidos corporais, ajudando a reter água e substâncias hidratantes na camada córnea e a prevenir a perda excessiva de água.
Além disso, as células da camada granulosa começam a se degenerar e se transformar em corneócitos, que são as células mortas da camada córnea.
Espinhosa ou estrato espinhoso: é composta principalmente por queratinócitos, nela encontram-se as células de Langerhans que são responsáveis pela (linha de defesa) de microorganismos.
A camada espinhosa possui células com o citoplasma rico em tonofilamentos que mantêm as células unidas entre si através dos desmossomos. O estrato espinhoso possui células poligonais com pontes que através das quais, seus citoplasmas são ligados, os desmossomos, com isso, dando-lhe o aspecto de espinhos. Além disso, a camada espinhosa é responsável por sintetizar proteínas como a filagrina e a involucrina, importantes para a formação da barreira de proteção da pele.
A filagrina é uma proteína que ajuda a unir as fibras de queratina e lipídios na camada granulosa, formando uma barreira protetora na pele.
A involucrina, por sua vez, é uma proteína que ajuda a formar uma camada externa mais resistente e impermeável na epiderme, protegendo a pele de lesões e infecções.
Basal ou germinativa: é a camada mais interna ou profunda da epiderme responsável pela renovação das células da epiderme através de intensa atividade mitótica.
Na camada basal da epiderme, encontram-se as células de Merkel (mensagem sensorial) que possuem características neuroendócrinas da pele, isto é, que compartilham algumas características das células nervosas e das células produtoras de hormônios.
Derme
A derme é a camada mais interna da pele, caracterizada por ter vasos sanguíneos, vasos linfáticos e folículos pilosos. Ela é uma camada espessa e resistente, composta principalmente por tecido conjuntivo, e desempenha funções essenciais para a estrutura e funcionalidade da pele.
Os vasos sanguíneos promovem a nutrição e a troca gasosa, os vasos linfáticos promovem a drenagem de líquidos e atuam também no sistema imunológico, já os folículos pilosos são compostos por um pelo com seu respectivo bulbo, glândulas sebáceas, glândulas sudorípara e músculo eretor.
Nela são encontrados os fibrócitos, os fibroblastos que produzem colágeno que dá força e volume ao tecido, os miofibroblastos, os mastócitos e a elastina que dá elasticidade à pele.
Colágeno
O colágeno e a elastina são substâncias abundantes no corpo humano que podem trabalhar juntas ou separadas, elas representam cerca de 30% de todas as proteínas presentes no organismo e são responsáveis por e dão rigidez ao tecido epitelial e conjuntivo. Elas atuam tanto em conjunto quanto de forma separada para realização de diversos processos.
Mesmo desempenhando funções importantíssimas no corpo, os níveis de colágeno e elastina naturalmente passam a diminuir com o passar dos anos e, por conta disso, repara-se o surgimento de rugas, linhas de expressão, inflamações nas juntas, doenças de pele e até estrias.
A ciência classifica o colágeno em 30 diferentes tipos, sendo que cada um tem uma função específica. Os colágenos tipos I e II são os mais presentes no organismo, eles têm como principal função a criação e sustentação de tendões, ligamentos, cartilagens, pele, músculos e outros tecidos.
Colágeno tipo I: é o mais abundante no corpo humano sendo encontrado na pele (85%), tendões, ossos e dentes. Apresenta-se sob a forma de fibras grossas, sendo o mais resistente a tensões.
Colágeno tipo II: é muito encontrado nas cartilagens e associa-se a outras células da matriz extracelular, ligando-se fortemente à água. Ele funciona como uma mola esponjosa, cedendo água quando pressionado e voltando à forma primitiva quando a pressão cessa.
Colágeno tipo III: é comumente encontrado nas artérias, no músculo dos intestinos e do útero e em órgãos como o fígado, o baço e os rins. As fibras deste tipo de colágeno apresentam certa elasticidade, e por isto são sempre encontradas em órgãos de forma variável.
Colágeno tipo IV: é formado por moléculas de colágeno que não se associam em fibrinas. Elas se prendem umas nas outras pelas extremidades e formam uma rede semelhante a uma tela de arame. Ao se associar a moléculas não fibrosas da matriz extracelular, formam uma membrana que age como um filtro.
Os outros tipos de colágenos estão distribuídos dos cabelos até atividades em regiões mais delicadas, como a formação da retina, ou ainda na criação de membranas nos vasos sanguíneos.
Elastina
A elastina é a principal proteína estrutural das fibras elásticas tendões e ligamentos, de cor amarela, está presente no tecido epitelial e tecido conjuntivo, que confere elasticidade e resistência a estes tecidos.
As fibras de elastina são mais finas e resistentes que as do colágeno e estão presentes na pele, parede dos vasos sanguíneos, pulmões, intestinos e ligamentos.
A elastina por sua vez é menos presente que o colágeno, porém isso não significa que o papel que desempenha é menos importante. Ela trabalha promovendo elasticidade aos órgãos, garantindo que as estruturas possam esticar-se e depois retomar à forma natural, sem lesões ou deformidades.
Camadas da derme
A derme é a camada mais interna da pele sendo formada por duas principais camadas: a camada papilar e a camada reticular.
Camada papilar: é a camada mais superior (superficial) formada por tecido conjuntivo frouxo que recebe esse nome por apresentar regiões parecidas com dedos ou papilas em suas extremidades, os quais fazem a comunicação com a epiderme. Ela é responsável pela formação das papilas dérmicas, que são as elevações na superfície da derme que formam as impressões digitais. Essa camada também contém muitas células imunes e é responsável pela nutrição e oxigenação da epiderme.
Camada reticular: é a camada mais profunda (interna) da derme formada por tecido conjuntivo denso. Nela encontramos os capilares sanguíneos, fibras elásticas e de colágeno, fibroblastos, vasos linfáticos e terminações nervosas.
A derme contém muitos tipos de diferentes células, incluindo fibroblastos e fibrócitos, macrófagos, mastócitos e leucócitos sanguíneos, particularmente neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e monócitos. Na derme também são encontradas terminações nervosas responsáveis pela sensação de frio, calor, dor e pressão.
O plexo profundo situa-se na base da derme reticular e é composto por arteríolas e vênulas de paredes mais espessas. Há ligação íntima entre os plexos por meio dos vasos comunicantes, e o controle do fluxo sanguíneo dérmico por esses vasos contribui para o controle da temperatura corpórea.
Mecanorreceptores
Os mecanorreceptores são componentes do sistema de receptores sensoriais que respondem a um determinado estímulo mecânico e são responsáveis pela propriocepção, somestesia, isto é, capacidade de receber informações sobre as diferentes partes do seu corpo.
Corpúsculos de Vater-Pacini: são mecanorreceptores especializados em captar pressão, estímulos vibrantes e táteis.
Corpúsculos de Meissner: são mecanorreceptores de tato e de vibrações que se situam no interior de papilas dérmicas da pele.
Corpúsculos de Ruffini: são mecanorreceptores térmicos de calor.
Bulbos terminais de Krause: são mecanorreceptores térmicos de frio.
Esses mecanorreceptores convertem os estímulos mecânicos em sinais elétricos, que são transmitidos ao sistema nervoso central por meio dos neurônios sensoriais. A partir desses sinais, o cérebro é capaz de interpretar e responder aos estímulos mecânicos recebidos, permitindo a percepção tátil, a coordenação motora e a manutenção do equilíbrio e postura corporal.
Anexos cutâneos
Os anexos cutâneos são estruturas derivadas da epiderme que desempenham funções específicas relacionadas à proteção, regulação térmica, sensibilidade e outras atividades fisiológicas. Cada anexo cutâneo tem uma função única e contribui para a homeostase e a integridade da pele.

Quais são os anexos cutâneos?
Essas estruturas cutâneas incluem as unhas, os cabelos e pelos, as glândulas sudoríparas e as glândulas sebáceas.
Unhas
As unhas são formadas por células corneificadas (queratina) que formam lâminas de consistência endurecida, sendo formada pela raiz (encaixada no leito ungueal e no hiponíquio), lúnula, corpo da unha e margem livre.
Cabelos e pelos
Os cabelos e pelos estão presentes em quase toda superfície corporal, exceto na região palmoplantar – palma das mãos e plantas dos pés. Um pelo completo é formado por três regiões com diferentes níveis de queratinização: medula, córtex e cutícula.
Glândulas sebáceas
As glândulas sebáceas são exócrinas do tipo holócrinas, isto é, eliminam a secreção, juntamente com o citoplasma, sendo desintegradas e regeneradas, estão normalmente associadas aos folículos pilosos e secretam sebo (gorduras + ácidos graxos) que controla o pH da pele, deixando-a oleosa e lubrificada.
O asseio corporal é importante pois a gordura segregada pelas glândulas sebáceas ajudam a acumular poeira e microorganismos, o que podem causar várias doenças. Ao eliminar a sujeira, a sensibilidade geral e os sentidos também são preservados.
Glânulos de Fordyce
Os grânulos de Fordyce são pequenos pontos amarelados ou esbranquiçados que surgem de forma natural e podem aparecer nos lábios, no interior das bochechas ou nos genitais, e não apresentam consequências para a saúde.
Esses grânulos são glândulas sebáceas aumentadas e, por isso, podem surgir em qualquer idade, sendo mais frequentes na puberdade devido às alterações hormonais e não estando relacionados ao HIV, herpes, doenças sexualmente transmissíveis, verrugas genitais ou câncer.
Apesar dos grânulos de Fordyce não representarem risco para a saúde e nem necessitarem de tratamento, algumas pessoas podem desejar eliminar esses grânulos por uma questão de estética, podendo ser recomendado pelo dermatologista o uso de cremes ou realização de cirurgia a laser.
Glândulas sudoríparas
As glândulas sudoríparas são exócrinas do tipo merócrinas, isto é, liberam suas secreções sem perda de outro material celular, elas produzem e excretam o suor que regula a temperatura corporal e tem ação bactericida.
Existem basicamente dois tipos principais de glândulas sudoríparas: as écrinas e as apócrinas.
Glândulas écrinas ou merócrinas (apenas secreção): são encontradas em toda a superfície da pele sendo responsáveis pela produção de suor que ajuda a regular a temperatura corporal.
Glândulas apócrinas (secreção + parte da célula): são encontradas em regiões específicas do corpo, como axilas e genitais, e produzem um suor mais espesso, que pode ser decomposto por bactérias, causando odores corporais.
As glândulas sudoríparas são controladas pelo sistema nervoso autônomo, que pode ser ativado em resposta a estímulos como o calor, exercício físico, estresse ou emoções intensas.
Suor
O suor é um líquido composto por substâncias retiradas do sangue pelas glândulas sudoríparas, sendo: água, uréia, ácido úrico e cloreto de sódio.
O ser humano é um animal homeotérmico, isto é, mantém a temperatura corporal praticamente constante, ao redor de 36,5º C.
Quando praticamos algum exercício físico, a atividade muscular produz muito calor e a temperatura do corpo tende a aumentar, então eliminamos suor, a água contida no suor evapora-se na pele, provocando uma redução na temperatura do ar que a circunda. Isso favorece as perdas de calor do corpo para o ambiente, fato que contribui para a manutenção da temperatura do nosso corpo.
Referências Bibliográficas
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